

As opções são um dos instrumentos financeiros derivados mais populares do mundo. Dizem-se “derivados” porque o seu valor depende de um ativo subjacente, podendo neste caso ser uma ação, um índice, um ETF ou até uma matéria-prima.
Apesar do seu boom recente entre os investidores, sobretudo nos Estados Unidos, a sua história é longa.
No século XVII, os comerciantes nos Países Baixos começaram a usar contratos deste tipo para reduzir os riscos do comércio de mercadorias. Esses acordos permitiam-lhes fixar antecipadamente o preço de bens que ainda não estavam prontos para venda, protegendo-se das variações inesperadas.
Até aos dias de hoje, a lógica manteve-se: as opções evoluíram como uma espécie de “seguro” (hedging) contra oscilações de valor, e mais tarde passaram a ser usadas também em estratégias de investimento e especulação.
Nos dias de hoje, milhões de investidores negociam opções diariamente através de corretoras como a Robinhood, e desde 2020 o volume atingiu níveis recorde, impulsionado pelo fenómeno do fórum Reddit/wallstreetbets, onde se popularizaram histórias de grandes ganhos e perdas com opções.
É importante ter em conta que a maioria dos investidores particulares perde dinheiro ao negociar opções. Por isso, neste artigo vamos focar-nos no essencial: o que são opções, como funcionam, quais os riscos, se faz sentido investir nelas, onde é possível negociá-las e de que forma o conceito de alavancagem pode aumentar tanto os ganhos como as perdas.
O que são opções?
Uma opção é um contrato que dá ao comprador o direito, mas não a obrigação, de comprar ou vender um ativo a um preço pré-definido (chamado preço de exercício ou strike price) até uma determinada data (data de expiração).
O ativo subjacente pode ser, por exemplo:
- Ações (ex.: Galp, EDP)
- Índices (ex.: S&P 500)
- ETFs (ex.: MSCI World)
- Matérias-primas (ex.: ouro, petróleo)
Existem dois tipos principais de opções:
- Call: dá o direito de comprar o ativo a um preço fixo.
- Put: dá o direito de vender o ativo a um preço fixo.
Por exemplo, imagina que a EDP está hoje a 4€ por ação e acreditas que o preço vai subir nos próximos meses. Decides então comprar uma opção de compra (Call) que te dá o direito de comprar ações da EDP a 4,50€ durante o próximo trimestre. O valor que pagas para ter esse direito chama-se prémio.
Se, antes da data de vencimento, o preço da ação subir para 5€, podes exercer a opção: compras a 4,50€ (o preço fixado no contrato) e vendes a 5€, ficando com a diferença (menos o prémio pago). Mas, se o preço nunca ultrapassar os 4,50€, não faz sentido exercer o direito. Nesse caso, deixas a opção expirar e a tua perda será o prémio pago inicialmente.
Para que servem as opções?
As opções nasceram como uma ferramenta de gestão de risco (hedging). O objetivo inicial era permitir que empresas e investidores institucionais protegessem os seus ativos contra movimentos adversos nos preços, como por exemplo:
- Uma companhia aérea pode comprar opções de compra (Call) sobre petróleo para se proteger de uma subida inesperada no preço do combustível.
- Um investidor com ações pode comprar uma opção de venda (Put) para garantir que consegue vendê-las a um preço definido, mesmo que o mercado caia.
Com o tempo, as opções passaram a ser usadas também por investidores particulares e profissionais em três grandes áreas:
- Gestão de risco (hedging): proteger investimentos já existentes contra perdas.
- Especulação: tentar lucrar com movimentos futuros dos preços, assumindo riscos elevados.
- Estratégias avançadas: investidores profissionais combinam várias Calls e Puts para criar estruturas mais sofisticadas, gerar rendimento extra, apostar na volatilidade ou neutralizar riscos.
No entanto, é importante sublinhar que tanto as opções como outros derivados são instrumentos arriscados e de caráter especulativo. Por isso, não são necessariamente adequados para a construção de património de longo prazo por parte de investidores de retalho, como eu e provavelmente os leitores do Literacia Financeira.
Em termos simples, uma opção funciona como um bilhete para uma oportunidade:
- Se o preço se mover a teu favor, usas o bilhete e beneficias.
- Se não, o bilhete perde a validade e a tua perda fica limitada ao prémio pago.
Desta forma, negociar opções é na prática uma aposta especulativa sobre o movimento e o momento do preço de um ativo.
Quais são os tipos de opções?
Existem quatro posições básicas no mercado de opções. Duas são mais simples: comprar Calls ou Puts, e duas são mais avançadas, normalmente usadas por investidores profissionais: vender Calls ou Puts.
Comprar uma opção de Compra (Long Call)
- Dá o direito de comprar o ativo a um preço fixo.
- Usada quando se acredita que o ativo vai subir de valor.
- Perda máxima: o prémio pago.
- Potencial de ganho: ilimitado (quanto mais subir, maior o lucro).
Comprar uma opção de venda (Long Put)
- Dá o direito de vender o ativo a um preço fixo.
- Usada quando se acredita que o ativo vai descer de valor.
- Perda máxima: o prémio pago.
- Potencial de ganho: elevado, mas limitado até o preço do ativo chegar a zero.
Vender uma opção de compra (Short Call)
- Obriga-te a vender o ativo ao preço fixo, se o comprador exercer.
- Não pagas o prémio, recebes o prémio no início.
- Usada quando acreditas que o preço do ativo vai manter-se estável ou cair ligeiramente (assim o comprador não exerce e ficas só com o prémio).
- Perda potencial: ilimitada (quanto mais o ativo subir, maior a perda).
- Ganho máximo: o prémio recebido.
Vender uma opção de venda (Short Put)
- Obriga-te a comprar o ativo ao preço fixo, se o comprador exercer.
- Não pagas o prémio, recebes o prémio no início.
- Usada quando acreditas que o preço do ativo vai manter-se estável ou subir ligeiramente (assim o comprador não exerce e ficas só com o prémio).
- Perda potencial: elevada (se o ativo cair muito, podes ser obrigado a comprá-lo bem acima do valor de mercado).
- Ganho máximo: o prémio recebido.
Para simplificar estas diferenças, esta tabela resume cada tipo de posição:
Como funcionam as opções?
Uma opção, sendo um contrato financeiro, inclui sempre alguns elementos fundamentais:

- Ativo subjacente: define o que está a ser negociado.
- Prazo de vencimento (data de expiração): indica até quando a opção pode ser exercida. Depois dessa data, o contrato expira e deixa de ter valor.
- Preço de exercício (strike price): é o preço a que o comprador tem o direito de comprar (Call) ou vender (Put) o ativo.
- Tipo de opção: pode ser uma Call (direito de comprar) ou uma Put (direito de vender).
- Prémio: é o valor pago pelo comprador no início do contrato. Este preço é sempre apresentado por unidade do ativo (por exemplo, por ação).
- Unidades (ou tamanho do contrato): cada contrato de opções representa um número fixo de unidades do ativo subjacente.
- No caso das ações, a regra mais comum é: 1 contrato = 100 ações.
- Noutros ativos (ETFs, índices ou matérias-primas), o número de unidades pode variar. Por exemplo, um contrato de opções sobre petróleo pode representar 100 barris.
Assim, para calcular o custo real do contrato, basta multiplicar o prémio pelo número de unidades que cobre. Por exemplo, se o prémio for 0,20€ e cada contrato representar 100 ações, o custo total do contrato será: 0,20€ x 100 = 20€.
Exemplo 1: Compra de uma Opção de Compra (Long Call)

- Ativo subjacente: EDP
- Data de expiração: 15 de setembro de 2027
- Strike price: 4,50€
- Tipo: Call (direito de comprar)
- Prémio: 0,20€ por ação
- Custo total do contrato: 0,20€ x 100 = 20€.
Cenários no vencimento:
- Se a ação subir para 5,00€ → еxercendo a opção: compras a 4,50€ e vendes a 5,00€.
- Ganho bruto = (5,00 – 4,50) x 100 = 50€.
- Menos prémio = 20€.
- Lucro = 30€ (excluindo impostos e comissões da correta).
- Se a ação ficar nos 4,50€ ou abaixo → não compensa exercer.
- Perda máxima = prémio = 20€.

Exemplo 2: Compra de uma Opção de Venda (Long Put)

- Ativo subjacente: EDP
- Data de expiração: 15 de setembro de 2027
- Strike price: 4,50€
- Tipo: Put (direito de vender)
- Prémio: 0,25€ por ação
- Custo total do contrato: 0,25€ x 100 = 25€.
Cenários no vencimento:
- Se a ação cair para 4,00€ → exercendo a opção: vendes a 4,50€ enquanto o mercado está a 4,00€.
- Ganho bruto = (4,50 – 4,00) × 100 = 50€
- Menos prémio = 25€.
- Lucro = 25€ (excluindo impostos e comissões da correta).
- Se a ação ficar nos 10,00€ ou subir → não compensa exercer.
- Perda máxima = prémio = 30€.
Exemplo 3: Venda de uma Opção de Compra (Short Call)

- Ativo subjacente: EDP
- Data de expiração: 15 de setembro de 2027
- Strike price: 4,50€
- Tipo: Call (venda)
- Prémio recebido: 0,20€ por ação
- Receita inicial: 0,20€ x 100 = 20€.
Cenários no vencimento:
- Se a ação ficar nos 4,50€ ou abaixo → o comprador não exerce.
- Ficas com o prémio: Lucro = 20€
- Se a ação subir para 5,00€ → és obrigado a vender a 4,50€ enquanto o mercado está a 5,00€.
- Perda = (5,00 – 4,50) × 100 – prémio recebido = 50€ – 20€ = 30€
- Se a ação disparar para 6,00€ → a perda aumenta drasticamente.
- Perda = (6,00 – 4,50) × 100 – 20€ = 150 – 20 = 130€
Exemplo 4: Venda de uma Opção de Venda (Short Put)

- Ativo subjacente: EDP
- Data de expiração: 15 de setembro de 2027
- Strike price: 4,50€
- Tipo: Put (venda)
- Prémio recebido: 0,25€ por ação
- Receita inicial: 0,25€ x 100 = 25€.
Cenários no vencimento:
- Se a ação ficar nos 4,50€ ou acima → o comprador não exerce.
- Ficas com o prémio: Lucro = 20€
- Se a ação cair para 4,00€ → és obrigado a comprar a 4,50€ quando o mercado está a 4,00€.
- Perda = (4,50 – 4,00) × 100 – prémio recebido = 50 – 25 = 25€
- Se a ação disparar para 3,00€ → a perda é muito maior.
- Perda = (4,50 – 3,00) × 100 – 25 = 150 – 25 = 125€
O que determina o preço das opções?
O preço de uma opção, chamado prémio, não é fixo. Ele reflete a probabilidade de a opção vir a ser lucrativa e é atualizado em tempo real pelas plataformas de negociação.
O preço de uma opção divide-se em valor intrínseco e valor extrínseco.
O valor intrínseco reage diretamente à direção do preço do ativo subjacente:
- Quando o preço do ativo sobe, o valor de uma Call tende a aumentar, enquanto o valor de uma Put diminui.
- Quando o preço do ativo desce, as Calls perdem valor e as Puts ganham.
Já o valor extrínseco é mais complexo e não segue uma relação linear. Ele depende de vários fatores que acrescentam “incerteza” ao preço da opção, que podem ser resumidos em três grandes fatores:
- Tempo até à expiração: quanto mais tempo resta, maior a probabilidade de o ativo se mover, logo a opção vale mais.
- Volatilidade implícita: se o mercado espera que o ativo oscile muito, o valor da opção sobe porque há mais hipóteses de lucro.
- Distância em relação ao preço atual: opções com strike próximo do preço do ativo valem mais do que opções muito afastadas.
No entanto, os modelos matemáticos usados nas plataformas (como o Black-Scholes) consideram uma versão mais completa, baseada em sete fatores: o preço atual do ativo, o preço de exercício (strike), o tempo até expirar, a volatilidade implícita, a taxa de juro sem risco, os dividendos esperados e o tipo de opção (americana ou europeia).
Como funciona a alavancagem nas opções?
Uma das características centrais das opções é a alavancagem: com pouco capital inicial, consegues controlar uma posição muito maior do que se comprasses o ativo diretamente.
Por exemplo, uma única opção de compra (Call) dá-te o direito de comprar 100 ações. Isso significa que, com apenas algumas dezenas de euros (o prémio), consegues controlar uma posição que no mercado à vista exigiria centenas ou até milhares de euros.
Isto traduz-se numa posição altamente alavancada, muitas vezes até superior à que é possível com CFDs (Contratos por Diferença), que na Europa estão limitados por regulação a um máximo de 30x para pequenos investidores.
A lógica é simples:
- Com ações: precisas de muito mais capital e o retorno é proporcional ao movimento do preço.
- Com opções: o investimento inicial é muito mais baixo, mas o retorno percentual pode ser muito maior.
É precisamente isto que chamamos alavancagem: a capacidade de multiplicar o efeito do movimento do ativo subjacente.
Mas essa mesma característica também aumenta o risco:
- Se a ação cair, quem detém ações ainda mantém algum valor (mesmo que seja inferior ao investido).
- Já uma opção pode perder 100% do prémio pago e expirar sem qualquer valor, caso o mercado não evolua a teu favor.
Ou seja, as opções potenciam ganhos, mas também podem levar a perdas totais em muito pouco tempo.
Vale a pena investir em opções?
As opções podem ser ferramentas poderosas, mas também muito arriscadas, sobretudo para investidores de retalho.
Vantagens
- Permitem proteger investimentos existentes.
- Podem gerar retornos muito elevados com pouco capital, devido ao efeito da alavancagem.
- Oferecem flexibilidade para montar estratégias adaptadas a diferentes cenários de mercado.
Desvantagens
- A maioria dos investidores de retalho perde dinheiro a negociar opções.
- A complexidade é elevada: não basta prever a direção do ativo, é preciso também acertar no prazo e na intensidade do movimento.
- Existe um risco elevado de perder 100% do prémio pago.
- Estratégias mais avançadas (como a venda de opções) podem implicar perdas potencialmente ilimitadas.
As opções podem fazer sentido para gestão de risco ou estratégias específicas, mas não são adequadas para a maioria dos investidores de retalho como forma de construir património a longo prazo.
Onde posso comprar opções?
As opções podem ser negociadas através de corretoras internacionais, que dão acesso aos principais mercados de derivados (EUA, Europa, Ásia).
Em Portugal, a maioria dos bancos não disponibiliza negociação de opções para investidores de retalho. Por isso, quem quer investir neste tipo de instrumento recorre normalmente a plataformas como a DEGIRO ou a Interactive Brokers.
Todas as corretoras exigem que o investidor realize um teste de adequação, para comprovar que entende os riscos deste tipo de produto.
DEGIRO
A DEGIRO é uma corretora europeia que permite negociar opções em mercados dos EUA e da Europa. É mais simples de usar do que a Interactive Brokers, mas tem menos ferramentas avançadas.
Comissões
- 0,75€ por contrato.
- Taxa mensal de conectividade: 5€.
- Exercício da opção: 1€ por contrato.
Na plataforma podes filtrar opções por:
- Empresa ou ETF subjacente.
- Data de vencimento.
- Preço de exercício (strike).
- Tipo de opção (Call ou Put).

Interactive Brokers
A Interactive Brokers é considerada a corretora mais completa para negociação de opções a nível mundial, com acesso a praticamente todos os mercados (EUA, Europa e Ásia).
Comissões
- EUA: a partir de 0,65 USD por contrato.
- Europa: valores variam por mercado (normalmente entre 1€ e 2€ por contrato).
- Sem taxas mensais de conectividade (ao contrário da DEGIRO)
- Exercício da opção: cerca de 1 USD por contrato nos EUA
Disponibiliza tanto a plataforma avançada Trader Workstation (TWS) como uma solução mais simples, como o Client Portal (web), sendo mais adequada para quem procura uma experiência mais direta, onde disponibilizamos também um tutorial passo a passo para a compra de opções através da mesma:

Se tiveres interesse, explora uma destas corretoras, os contratos de opções que oferecem, e investe por ti mesmo!
Bónus: Porquê opções em vez de simplesmente comprar ações?
Se acreditas que uma determinada empresa vai valorizar, a forma mais direta de investir é comprar ações dessa empresa. Mas as opções oferecem uma forma diferente de apostar nesse movimento, com algumas vantagens e desvantagens.
A grande diferença é que as ações representam a propriedade da empresa, enquanto as opções são contratos que te dão apenas o direito de comprar ou vender essas ações a um preço fixo, durante um prazo limitado.
Conclusão
As opções são contratos que dão o direito (não a obrigação) de comprar ou vender um ativo a um preço definido até uma data limite. Servem para cobertura de risco (hedging), especulação e estratégias avançadas, mas trazem riscos elevados: alavancagem, prazo finito e complexidade.
Para institucionais, podem ser úteis na gestão de risco. Para investidores de retalho, devem ser usadas com muita cautela e não como estratégia principal para construir património a longo prazo.
Se avançares:
- Começa pequeno e assume que podes perder 100% do prémio.
- Sabe o que estás a comprar: ativo subjacente, prémio, strike, expiração, valor intrínseco/extrínseco.
- Define regras de saída (perda máxima/objetivo) e respeita-as.
- Verifica os custos antes de operar.
- Usa-as apenas se tiveres um perfil de risco elevado.
É importante lembrar que os mercados, no curto prazo, são muitas vezes irracionais e imprevisíveis.
Podemos esperar boas notícias para uma empresa e, ainda assim, ver a sua cotação cair.
Essa é a natureza do mercado: nem sempre reage de forma lógica ou imediata às notícias, ou simplesmente essa informação já era esperada e estava refletida no preço. Esta imprevisibilidade que alimenta o lado altamente especulativo das opções.
Por isso, entende bem os riscos antes de investir. Só depois decide se este tipo de instrumento faz sentido para ti.