Certificados do Tesouro vs Certificados de Aforro



Quando se fala em investimento sem risco, os Certificados emitidos pelo Estado português serão das primeiras opções que vêm à mente da maioria dos portugueses, como mostram os últimos dados do Banco de Portugal (Aforro e Tesouro).
Quer os Certificados de Aforro, quer os Certificados do Tesouro, são dívida pública com capital garantido. É o Estado português que garante que vais receber de volta toda a tua poupança e os juros a que tiveres direito.
Mas qual dos Certificados escolher? Neste artigo, vamos explorar as semelhanças e, mais importante, as diferenças para te ajudar a saber qual dos dois será mais indicado para ti.
Quais as diferenças entre ambos?
As diferenças entre os Certificados de Aforro e os Certificados do Tesouro são as seguintes:
Apesar de ambos serem produtos de dívida pública emitidos pelo Estado português e geridos pelo IGCP, existem diferenças significativas entre eles.
Os Certificados de Aforro (CA) são mais flexíveis, permitindo resgates após três meses e beneficiando de juros compostos que aumentam o rendimento ao longo do tempo. A sua taxa é variável, acompanhando a Euribor a 3 meses, o que pode ser vantajoso em períodos de subida das taxas de juro, mas também significa menor previsibilidade quando estas descem.
Já os Certificados do Tesouro Poupança Valor (CTPV) oferecem taxas fixas e crescentes, dando ao investidor a segurança de saber antecipadamente quanto vai receber. Contudo, os juros não são capitalizados e só são pagos anualmente, o que resulta num crescimento mais lento do capital ao longo do tempo. Além disso, o investimento mínimo é mais elevado (1.000€) e o levantamento só é possível após um ano.
Exemplos práticos
Se precisares de acesso ao dinheiro a curto ou médio prazo, os Certificados de Aforro são mais adequados. Podes resgatar após três meses e o efeito da capitalização faz o teu dinheiro render cada vez mais com o passar do tempo.
- Exemplo: um investimento de 5.000€ pode gerar cerca de 5.368,50€ ao fim de 5 anos, assumindo uma taxa média anual de 2% com juros compostos trimestralmente e líquido de impostos. Faz as tuas simulações na nossa calculadora de juros compostos.
Se pretendes manter o dinheiro aplicado durante vários anos sem te preocupares com oscilações de taxa, os Certificados do Tesouro Poupança Valor são uma boa opção. Garantem rendimento fixo crescente, previsível e sem surpresas.
- Exemplo: um investimento de 5.000€ renderia cerca de 5.350€ ao fim de 7 anos, com base nas taxas atuais e sem considerar o prémio do PIB.
O que são os Certificados de Aforro (CA)?
Tal como indicado na introdução, os CA são nada mais nada menos que dívida do Estado português que pode ser diretamente adquirida pelos investidores de retalho, pessoas como tu e nós.
Com um investimento mínimo de 10€ é acessível para a maioria das pessoas (o investimento máximo é de 100.000€). Também tem a particularidade da capitalização automática de juros (usufruir dos juros compostos) de 3 em 3 meses.
Os certificados de aforro têm várias séries “ativas”, nomeadamente:
- Série A: emitida em 1960, até 2005: juros fixos e depois variáveis, entre 3% e 6%.
- Série B: emitida em 1996, até 2008: juros Euribor 3M + 1%, com teto de 3,5%.
- Série C: emitida em 2008, até 2015: juros Euribor 3M + 1%, com teto de 3,5% e mínimo de 0%.
- Série D: emitida em 2015, até 2017: juros Euribor 3M + 1%, com teto de 3,5% e prémio de permanência até +1,5%.
- Série E: emitida em 2017, até 2023: taxa base 3,5%, indexada à média dos Bilhetes do Tesouro a 3 meses, com prémio de 0,75% a partir do 2.º ano.
- Série F: emitida em 2023, em vigor, prazo máximo de 15 anos, juros variáveis indexados à taxa média dos Bilhetes do Tesouro a 3 meses, com capital garantido e possibilidade de prémios de permanência.
A série F, a única que podes subscrever hoje, funciona da seguinte forma:
Recebes uma taxa-base: indexada à EURIBOR a 3 meses. Esta taxa nunca pode ser inferior a 0% nem superior a 2,5%. Podes ver aqui a evolução da EURIBOR desde 1999:

Em outubro de 2025, a taxa fixada foi de 2,009% (clica em “Série F” e lê a primeira frase).
Estas foram as taxas fixadas em cada mês desde o início de 2025 (lembra-te que é sempre em termos anuais, ou seja, 2,500% em janeiro, por exemplo, refere-se à taxa de juro anual):
Fonte: IGCP
Adicionalmente, recebes um prémio de permanência. Mais detalhes em baixo.
Juros compostos
Para melhor entendermos este conceito de capitalização dos juros, deixamos este exemplo: se investiste 1.000€ com uma taxa de juro anual de 2%, isto significa que tens uma taxa trimestral de 0,50%. Ora, ao fim de 3 meses, terias 5€ em juros que, descontados os 28% de impostos retidos na fonte, daria 3,60€. Nos 3 meses seguintes, os 0,50% seriam aplicados aos 1.003,60€ (1.000€ + 3,60€) e não apenas sobre os teus 1.000€ iniciais. Faz as tuas simulações na nossa calculadora de juros compostos.
Prémios de permanência
Outro ponto a destacar são os prémios de permanência que funcionam como um incentivo para manteres o teu dinheiro investido neste produto. Usando o mesmo exemplo de cima, a taxa de 2% passaria para 2,25% entre o 2º e 6º ano (Estamos a pressupor que a taxa de juro se manteria constante, o que não será verdade na prática visto que varia conforme a Euribor a 3 meses).
Deixamos mais detalhes na seguinte tabela:
O prazo de 15 anos refere-se ao tempo máximo que podes deter este investimento. Após esse período, terás de subscrever à nova série de certificados de aforro existentes nesse momento.
Não tem quaisquer encargos de subscrição, manutenção ou de levantamento.
Para mais detalhes, consulta a página oficial da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), a entidade responsável pela gestão da tesouraria, do financiamento e da dívida pública direta do Estado.
O que são os Certificados do Tesouro Poupança Valor (CTPV)?
Tal como os CA, também os CTPV são instrumentos de dívida do Estado português que podem ser diretamente adquiridos por qualquer cidadão português.
Neste produto, o mínimo de investimento já sobe para os 1.000€ e tem um máximo de 1.000.000€ por conta aforro.
As taxas de juro são fixas, ou seja, já sabes de antemão quanto irás receber (Algo que não acontece nos CA) e a partir do 3º ano entra uma nova componente: recebes +20% do crescimento real médio do PIB nos 4 trimestres anteriores, com um máximo de 1,5%. Contudo, não têm capitalização dos juros.
Deixamos mais detalhes na seguinte tabela:
O prazo de 7 anos refere-se ao tempo máximo que podes deter este investimento. Após esse período, terás de subscrever à nova série de CTPV existentes nesse momento.
Também aqui não tens quaisquer encargos de subscrição, manutenção ou de levantamento.
Para mais detalhes, consulta a página oficial da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) referente a este produto.
Riscos e segurança
Tanto os CA como os CTPV são produtos de dívida pública, o que significa que o Estado português garante o reembolso total do capital investido. Isto torna ambos seguros em comparação com outros produtos de poupança ou investimento.
Ainda assim, existem dois tipos de risco a considerar:
- Risco de taxa de juro: Nos CA, a rentabilidade varia com a Euribor. Se as taxas de juro descerem, a remuneração também diminuirá. Nos CTPV, a taxa é fixa, o que protege contra descidas, mas impede aproveitar eventuais subidas.
- Risco de inflação: Se a inflação superar a taxa de juro obtida, especialmente líquida de impostos, o poder de compra do capital investido poderá diminuir. Este risco é comum a qualquer investimento de rendimento fixo.
Os rendimentos de ambos os produtos estão sujeitos à retenção na fonte de 28% (IRS), podendo ser englobados na declaração anual de rendimentos caso te compense fiscalmente.
Onde subscrever CA e os CTPV?
- Loja CTT / balcão físico dos Correios: presencialmente, mediante documento de identificação e NIF.
- Espaços Cidadão: alguns Espaços Cidadão oferecem este serviço.
- Portal AforroNet (online): após abrires conta aforro e aderires ao serviço, podes enviar pedidos de subscrição online.
- Banco BIG: o Banco de Investimento Global (BIG) é um dos bancos autorizados a comercializar estes certificados.
Qual escolher?
A escolha entre Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro Poupança Valor depende essencialmente do prazo em que pretendes manter o dinheiro investido e da necessidade de liquidez.
- Certificados de Aforro (CA): Ideal para quem procura juros compostos, flexibilidade e potencial de rendimento superior em períodos de subida das taxas de juro. São particularmente indicados para aforradores que podem precisar de levantar o dinheiro antes do prazo máximo.
- Certificados do Tesouro Poupança Valor (CTPV): Adequados para quem prefere estabilidade e previsibilidade, sabendo exatamente quanto vai receber (na componente fixa).
Antes de investir, é importante avaliares os teus objetivos financeiros, o horizonte temporal do investimento e o nível de liquidez que pretendes manter.
Outro artigo que te pode interessar:
