O que muda quando a Reserva Federal (Fed) altera os juros?
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Nos próximos dias 16 e 17 de setembro, a Reserva Federal Americana vai reunir-se para decidir o rumo da política monetária. O que pode sair desta reunião? O que significa uma baixa dos juros? Como poderão os mercados reagir?
Neste artigo, explicamos-te tudo o que precisas de saber sobre estas decisões e o que esperar dos mercados financeiros após esta reunião!
O que é a Reserva Federal Americana?
O Sistema de Reserva Federal, mais conhecido como o Fed, é o sistema de bancos centrais dos Estados Unidos.
Atualmente presidido por Jerome Powell, o Fed tem estas responsabilidades principais:
- formular e executar a política monetária;
- fiscalizar bancos regionais;
- publicar o Livro Beige, onde se analisa de forma regular como anda a economia americana;
- regular e supervisionar instituições financeiras.

A política monetária é implementada através da compra ou venda de títulos e mediante o aumento ou redução da taxa de desconto da taxa de juros dos empréstimos feitos pela Reserva Federal aos bancos.
O que acontece nas reuniões e por que é que a próxima reunião é importante?
As reuniões da Reserva Federal acontecem cerca de 8 vezes por ano e são marcadas por três decisões principais:
- Quais as taxas de juro de referência,
- Qual a orientação futura que o banco central prevê, sendo esta apresentada durante a conferência de imprensa, e
- Quais os ajustes que serão feitos aos ativos da Reserva Federal, isto é, aos instrumentos financeiros que o banco central comprou e que detém? Estes podem ser, por exemplo, obrigações emitidas pelo governo americano ou empréstimos a bancos comerciais.
As taxas de juro de referência referem-se às taxas definidas pelos bancos centrais e que são usadas para empréstimos de um dia entre bancos.
As taxas de referência servem de base para quase tudo: empréstimos bancários, depósitos, financiamentos de empresas, etc.
Quando o Fed aumenta a taxa de referência → pedir dinheiro fica mais caro, as famílias consomem menos, as empresas investem menos → economia “arrefece”.
Projeções recentes e o que esperar dos juros
Desde dezembro de 2024, o Fed manteve a taxa de juro na faixa de 4,25% a 4,50%, repetindo essa decisão nas reuniões de janeiro, março, maio, junho e julho de 2025, como podes ver no gráfico abaixo.

No entanto, os investidores esperam que isto mude já a partir da reunião de setembro: são esperadas três diminuições da taxa de juro nas três reuniões até ao final do ano de 2025! Podes acompanhar o que esperam os mercados no FedWatch!
Esta expectativa de descida das taxas de juro deve-se ao abrandamento visível da economia norte-americana. O mercado de trabalho, que vinha a mostrar sinais de força, foi revisto em baixa - estima-se agora que entre abril de 2024 e março de 2025 tenham sido criados menos de 900 mil empregos do que inicialmente divulgado.
Perante este cenário, e com a inflação a aproximar-se dos 3%, mas a manter-se relativamente estável, cresce a pressão política e de mercado para que a Reserva Federal comece a aliviar a política monetária. Mesmo no contexto da administração Trump, que tem dado prioridade ao crescimento e ao emprego, a expectativa é de cortes graduais nas taxas de juro para apoiar a economia e prevenir uma recessão.
Como reagem os outros bancos centrais?
A Reserva Federal tem, também, como responsabilidade gerir a emissão de dólares, que é uma moeda de reserva a nível global: cerca de 60% das reservas cambiais mundiais estão em dólares e uma parte significativa das transações internacionais é feita nesta moeda. Por esta razão, todos os investidores à volta do mundo estão atentos ao que o Fed faz.
Quando o Fed altera os juros, isso não fica só nos EUA. Em todo o mundo são sentidos os efeitos:
- Dólar pode valorizar ou enfraquecer.
- Outros bancos centrais sentem pressão para agir.
- Mercados de ações, obrigações, ouro, matérias-primas reagem.
Quando o Fed aumenta os juros, o dólar tende a valorizar face a outras moedas porque aumenta a procura por esta moeda. Isto pode enfraquecer as restantes, como o euro, a libra ou o iene, tornando as importações mais caras e aumentando a inflação nos países que usam estas moedas.
Para evitar desvalorizações excessivas e proteger a estabilidade de preços, os outros bancos centrais sentem-se pressionados a subir juros também. Como tal, as decisões do Fed influenciam as decisões dos outros bancos centrais.
Isto quer dizer que as decisões do Fed não mexem só com os mercados dos EUA, mas também ditam o ritmo global! Se o Fed subir os juros, o dólar tende a valorizar e pode fazer cair as ações noutros países; quando o Fed corta os juros, isto costuma ser benéfico para as ações e as obrigações mas enfraquece o dólar.
Por isso, mesmo quem investe fora dos EUA deve acompanhar estas reuniões para ajustar a carteira, gerir o risco cambial e aproveitar oportunidades que possam surgir.
Qual o impacto em Portugal e na Europa?
As decisões do Fed não ficam só nos EUA. Para nós, em Portugal e na zona euro, há vários efeitos:
- Banco Central Europeu (BCE): Muitas vezes o BCE tem de reagir para não deixar o euro desvalorizar demasiado face ao dólar. Se o Fed corta juros e o BCE não faz nada, o euro pode ganhar força ou perder competitividade, afetando as exportações.
- Taxa Euribor: É a taxa usada nos créditos à habitação em Portugal. Se o BCE acompanhar o Fed e cortar juros, a Euribor pode descer, logo, as tuas prestações da casa ficam mais baixas.
- Mercado acionista europeu: Bolsas como a Euronext Lisboa ou o DAX na Alemanha podem beneficiar de juros mais baixos nos EUA, porque o sentimento positivo espalha-se.
- Euro vs Dólar: Se o dólar ficar mais fraco, pode ser mais barato para Portugal importar matérias-primas cotadas em dólares (como petróleo), ajudando a controlar a inflação. Mas, por outro lado, quem exporta para os EUA pode receber menos em euros.
💡 O que o Fed decide pode refletir-se na tua prestação do crédito à habitação, no preço da energia, e até na inflação cá em Portugal.
O que esperar dos mercados financeiros?
Se a Reserva Federal avançar com cortes graduais de juros, os mercados financeiros tenderão a reagir de forma mista, mas previsível:
- Ações tendem a subir (crédito mais barato; futuros lucros “valem mais”).
- Obrigações do Tesouro: rendimentos descem, preços sobem.
- Dólar pode enfraquecer face a outras moedas.
- Ouro e matérias-primas, por vezes, valorizam em ambientes de juros mais baixos ou incerteza.
Em geral, as ações podem beneficiar porque taxas de juro mais baixas reduzem os custos de financiamento das empresas e aumentam o valor presente dos lucros futuros, embora subidas muito rápidas possam sinalizar preocupações com a economia e pressionar os índices.
As obrigações do Tesouro deverão ver os seus rendimentos (“yields”) descerem à medida que as expectativas de taxas futuras caem, fazendo subir os seus preços. Podes ficar a saber mais sobre a “yield curve” neste vídeo!
No mercado cambial, um Fed mais dovish, ou seja, inclinado para baixar as taxas de juro, costuma enfraquecer o dólar face a outras moedas, e matérias-primas como o ouro tendem a valorizar por serem ativos defensivos num contexto de taxas mais baixas.
No entanto, nem tudo são boas notícias! O JPMorgan alertou que a próxima redução da taxa de juros pela Reserva Federal pode desencadear uma queda nos mercados de ações.
Embora os investidores esperem que os cortes sejam positivos para as ações, o banco destaca que esse evento pode se tornar uma oportunidade para venda, levando à queda dos preços. O banco de investimento diz que o mercado já apresenta sinais de sobrecompra, com menor participação de investidores de varejo e redução na demanda por recompra de ações pelas empresas. Além disso, a postura do Fed pode gerar incerteza sobre a direção futura da política monetária.
Em suma, os investidores estarão atentos não só à decisão do Fed sobre as taxas de juro, mas também ao tom das suas declarações e comunicados. Cada palavra ou nuance pode indicar se cortes futuros estão garantidos, se serão graduais ou se o banco central continuará cauteloso diante da inflação e do mercado de trabalho.
Essa perceção influencia diretamente decisões de investimento: quem gere ações, obrigações, moedas ou matérias-primas ajustará posições, ponderará riscos e recalculará expectativas para o restante do ano, procurando aproveitar oportunidades sem assumir surpresas indesejadas.
O que deves ter em conta para o teu portefólio de investimentos?
Juros mais baixos costumam dar um empurrão às ações e às obrigações de longo prazo, mas também podem ser sinal de que a economia está a perder força.
Por isso:
- Diversificar é fundamental: não coloques tudo num tipo de investimento.
- Verificar custos: se os juros sobem, os empréstimos ficam mais caros para ti.
- Prestar atenção ao tom das declarações do Fed: mais “cuidadoso” ou mais “decidido” pode mudar muito as expectativas.
Para saberes mais sobre a importância da alocação de ativos, vê este vídeo:
E lembra-te: não é só a decisão do Fed que conta - o tom das declarações pode mexer tanto ou mais com os mercados do que o próprio corte dos juros.