O que é o Forex? Vale a pena investir?


O mercado Forex, abreviação de Foreign Exchange, é o mercado cambial onde as moedas de diferentes países são compradas e vendidas.
Explicando de forma simples, Forex é a troca de uma moeda por outra, realizada por pessoas, ou instituições.
Literacia Financeira
Quando vais viajar para outro país e trocas os teus Euros pela moeda local estás, na prática, a fazer uma transação de Forex.
Ao contrário de uma bolsa de valores centralizada, o Forex é um mercado global e descentralizado, que opera 24 horas por dia, cinco dias por semana.
O maior mercado financeiro do mundo
De acordo com o último relatório “BIS Triennial Survey” de 2022, o volume médio de negociação diário, em abril de 2022, no mercado de câmbio global, atingiu a impressionante marca de 7.5 triliões de dólares (7.500.000 milhões de dólares).
Para termos uma perspetiva, este montante é equivalente a aproximadamente um quarto do PIB dos Estados Unidos ou superior ao PIB de paises como a Alemanha e Japão.
Este número mostra a sua importância para a economia global, pois é através dele que bancos, empresas e governos realizam transações internacionais, como exportações, importações e investimentos.
O mercado cambial tem um papel central na economia global, uma vez que a compra e venda de moedas são fundamentais para todas as transações financeiras internacionais, tais como:
- Transações Comerciais: A compra e venda de moedas para facilitar o comércio internacional (importação e exportação de bens e serviços). Por exemplo, uma empresa europeia que compra componentes de um fornecedor japonês precisa de converter euros em ienes.
- Investimento Estrangeiro: A conversão de moeda para investir em ativos noutro país, como a compra de ações ou obrigações. Por exemplo, um investidor que quer comprar ações numa bolsa americana, precisa de converter a sua moeda nacional em dólares.
- Especulação: A negociação puramente especulativa, em que investidores e traders tentam lucrar com as flutuações das taxas de câmbio. Mais adiante discutiremos os desafios desta abordagem.
- Proteção contra riscos cambiais (hedging): Participantes que usam o mercado para protegerem os seus portfólios ou negócios de variações adversas das moedas. Empresas multinacionais, por exemplo, fazem hedging para se proteger de movimentos cambiais que poderiam afetar os seus lucros.
O crescente interesse de investidores individuais
Historicamente dominado por grandes instituições financeiras, o mercado Forex tem visto um crescente interesse de investidores individuais.
A democratização do acesso à informação e a popularização das plataformas de negociação online tornaram o trading de moedas mais acessível.
No entanto, este acesso facilitado traz um perigo: muitos iniciantes entram no Forex com a ideia de ficar ricos rapidamente a fazer trading, seduzidos por histórias de sucesso isoladas ou publicidade agressiva de algumas corretoras.
É fundamental compreender que, apesar de toda a facilidade tecnológica, este continua a ser um mercado altamente complexo e arriscado.
A probabilidade de perdas é elevada. Conforme veremos adiante, estudos de reguladores mostram que a esmagadora maioria dos investidores de retalho perde dinheiro no Forex. Por isso, antes de se aventurarem a negociar, os interessados devem educar-se sobre os riscos e desafios que este mercado acarreta.
Dito isto, vamos primeiro entender como o Forex funciona na prática.
Como funciona o Forex
No mercado cambial, as moedas são sempre negociadas em pares, pois o valor de uma é determinado em relação à outra.
Cada transação envolve a compra de uma moeda e a venda de outra em simultâneo. Por exemplo, no par mais transacionado no mundo, USD/EUR (dólar americano/euro), se um investidor compra USD/EUR, ele está a comprar dólares e a vender euros; se vende USD/EUR, faz o oposto (vende dólares para comprar euros).
Vale a pena investir?
⚠️ Importante: Forex é simplesmente o mercado onde se compram e vendem moedas de diferentes países para tentares lucrar (ou te protegeres) das variações das taxas de câmbio. Não é, por si só, um “investimento” que gere riqueza no longo prazo.
Trata-se de um mercado de soma zero onde um ganha exatamente o que o outro perde - e isso antes de custos. Diversos relatórios de reguladores e supervisores europeus (ESMA) indicam que entre 74% e 89% dos investidores de retalho perdem dinheiro ao negociar Forex e CFDs.
A resposta à pergunta "vale a pena investir em Forex" depende muito do tipo de investidor, dos objetivos, do conhecimento e capacidade de gestão de risco.
Com base na informação que encontras no presente artigo, aliado às referências bibliográficas partilhadas, consideramos que o perfil do investidor de Forex é um perfil mais conhecedor e agressivo.
Poderá ser adequado para investidores experientes, mas muito arriscado para principiantes.
Como tal, é extremamente importante a educação financeira, procurares informação adicional e complementar, educares-te e nunca arriscares o capital que não podes perder.
- A probabilidade de sucesso é baixíssima: Diversos relatórios de reguladores europeus já mencionados indicam que entre 74% e 89% dos investidores de retalho perdem dinheiro a negociar Forex e CFDs. E isto não é só estatística: na nossa experiência na equipa do Literacia Financeira, ainda não conhecemos um único trader de retalho que consiga fazer consistentemente a sua vida apenas com ganhos de Forex. Conhecemos investidores profissionais, gestores de fundos, contactos em corretoras - e mesmo entre estes, o consenso é que é extremamente raro um pequeno investidor vencer o mercado de Forex de forma consistente e sustentável. Há casos isolados? Provavelmente, mas são a exceção muito distante da regra.
- A natureza do mercado trabalha contra ti: Como explicado, Forex é um mercado de soma zero (ou negativa) puramente especulativo. Isso não significa que seja impossível ganhar numa ou outra operação, mas manter ganhos regulares ao longo do tempo neste ambiente hostil é muito difícil.
Never invest in any idea you can’t illustrate with a crayon.
Peter Lynch
Pares de moedas no Forex
Os Pares Principais (Majors) são os mais negociados e líquidos do mundo. Todos eles incluem o dólar americano (USD).
Os Pares Menores (Minors) são os pares que não incluem o dólar americano, mas são formados por moedas das principais economias, como por exemplo EUR/JPY, EUR/GBP e AUD/JPY.
Os Pares Exóticos (Exotics) incluem uma moeda de uma economia desenvolvida e uma moeda de uma economia emergente ou de menor dimensão, como USD/TRY (Dólar Americano/Lira Turca) ou EUR/PLN (Euro/Zloty Polaco). Estes pares têm menor liquidez e maior volatilidade.
Como exemplo, apresentamos o par mais negociado - USD/EUR.
Pela imagem abaixo indicada, vemos que o Dólar tem vindo a desvalorizar face ao Euro, desde o início de 2025 (com os mesmos dólares compramos menos euros).
De modo análogo, temos o mesmo par mas representado de modo “inverso”, ou seja, EUR/USD = 1 / (USD/EUR).
Pela imagem abaixo indicada, chegamos à mesma conclusão, ou seja, o Euro tem vindo a valorizar face ao Dólar, desde o início de 2025 (com os mesmos euros conseguimos comprar mais dólares).
Este exemplo ilustra como as cotações cambiais flutuam constantemente, influenciadas por inúmeros fatores económicos e geopolíticos.
Quem negoceia Forex tenta antecipar essas variações: por exemplo, se acharmos que o euro vai apreciar face ao dólar, faz sentido comprar EUR/USD (compramos euros vendendo dólares); se acreditarmos no contrário (que o dólar vai subir e o euro cair), então poderíamos vender EUR/USD (o que equivale a comprar dólares e vender euros).
Mais adiante discutiremos por que acertar consistentemente essas previsões é extremamente difícil.
Quais os pares mais negociados?
Com base no relatório “BIS Triennial Central Bank Survey 2022” constatamos que os 4 pares mais transacionados são os seguintes:
- EUR/USD (Euro/Dólar Americano): O par mais negociado globalmente com 22,7%
- USD/JPY (Dólar Americano/Iene Japonês) 13,5%
- GBP/USD (Libra Esterlina/Dólar Americano) 9,5%
- USD/CNY (Dólar Americano/Yuan): 6,6%
Nota: Excluí o par USD/EME pois a moeda EME corresponde a um “cabaz” de moedas de economias emergentes, excluindo o Yuan e o rouble russo, e não uma única moeda.

Horário de funcionamento
Uma das maiores vantagens do Forex é o seu funcionamento 24 horas por dia, 5 dias por semana, de segunda a sexta-feira. Isto é possível porque o mercado opera através de uma rede de centros financeiros globais, seguindo o horário das sessões de cada um deles.
As quatro principais sessões de negociação são:
- Sessão de Sydney (Austrália)
- Sessão de Tóquio (Ásia)
- Sessão de Londres (Europa)
- Sessão de Nova Iorque (América do Norte)
À medida que uma sessão se aproxima do fim, a próxima já está a começar, garantindo um fluxo contínuo de negociação, podendo haver sobreposição de sessões num determinado período, como por exemplo no caso da bolsa de Londres e de Nova Iorque.
O papel dos Brokers/Corretoras
O mercado Forex é descentralizado, o que significa que não existe um ponto de encontro físico para os traders.
É aqui que os brokers (corretoras) entram em jogo. Eles são intermediários que fornecem aos investidores individuais e às pequenas instituições acesso ao mercado.
A sua função principal é:
- Acesso ao Mercado: Os brokers dão acesso a plataformas de negociação online, como por exemplo a XTB e a Interactive Brokers, onde é possível negociar Forex.
- Liquidez: Conectam as ordens dos seus clientes com os fornecedores de liquidez (grandes bancos e instituições financeiras) para garantir que as transações sejam executadas de forma rápida e eficiente.
- Ferramentas e Serviços: Oferecem uma variedade de ferramentas de análise, gráficos, notícias do mercado, recursos educativos e apoio ao cliente para ajudar os traders a tomar decisões informadas.
- Regulamentação: Para operar de forma segura, uma corretora deve ser regulada por entidades reguladoras, como a CMVM (Portugal). A regulamentação garante que a empresa segue padrões rigorosos de conduta. Como tal, é essencial escolher uma corretora de confiança e regulada para negociar no mercado Forex (ver site da CMVM).
O risco da alavancagem
As corretoras permitem também a possibilidade de alavancagem, ou seja, o investidor efetua um depósito e a corretora “empresta-lhe” uma outra parte.
A alavancagem é uma ferramenta que permite a um investidor controlar uma posição de um valor muito superior ao seu próprio capital e normalmente surge na literatura das corretoras como X:Y.
A título de exemplo, o rácio 1:20 significa que por cada 1 euro que tens na tua conta, podes controlar 20 euros no mercado.
Exemplo Prático:
- Capital do Investidor: 1.000
- Alavancagem: 1:20
- Valor da Posição que podes controlar: 1.000€ x 20 = 20.000€
Implicações da Alavancagem:
A alavancagem é uma "faca de dois gumes" pois amplifica ganhos e perdas.
- Amplificação de Ganhos: Se a tua posição de 20.000€ valorizar 1%, o teu lucro será de 200€. Isto corresponde a um ganho de 20% sobre o teu capital inicial de 1.000€.
- Amplificação de Perdas: Se a tua posição de 20.000€ desvalorizar 1%, a tua perda será de 200€. Isto representa uma perda de 20% do teu capital inicial.
Para tentar evitar perdas totais de capital do investidor, as corretoras têm implementado um mecanismo designado de “margin close out”. Este mecanismo é aplicado, por transação, e consiste na venda de ativos quando a margem cai para valores de 50% da margem inicial. Ou seja, a corretora toma a iniciativa unilateral de fechar as tuas posições.
No entanto, podem existir casos das quedas serem tão acentuadas e súbitas, ao ponto das perdas serem superiores ao capital investido pelo investidor (ou seja, ficaria a dever dinheiro à corretora). Quando isso ocorre, existe um mecanismo inicial designado de “negative balance protection”, levando a que o investidor nunca perca mais do que o capital investido. Pegando no exemplo acima, se houvesse uma desvalorização súbita de 6% (perdas de 1.200€), o investidor perderia o capital total de 1.000€, mas não ficaria ainda a dever 200€ à corretora.
Estes mecanismos são apenas válidos para investidores de retalho. Podes consultar informação adicional aqui.
É por isso que a alavancagem é considerada uma ferramenta de alto risco. Pequenas variações de preço podem ter um impacto significativo no capital do investidor, podendo levar a perdas substanciais.
A acrescentar ao risco da alavancagem, temos também o risco da volatilidade elevada (elevadas oscilações de preço num determinado período de tempo, quanto maior a oscilação, maior a volatilidade). Se através da alavancagem os ganhos e as perdas são amplificados (pelo rácio de alavancagem), a volatilidade é um indicador da “rapidez” de oscilação, e da sua dispersão face à média dos retornos, sendo um fator determinante na estratégia do investidor e nos potenciais ganhos e perdas.
Nota: A volatilidade de um par é estimada com base no cálculo do desvio padrão dos retornos. Ou seja, quanto maior for a dispersão face à média, maior a volatilidade.
Devido à elevada complexidade e impacto deste tipo de investimento nos investidores de retalho, a ESMA (European Securities and Markets Authority, entidade independente da UE, de supervisão dos mercados financeiros e proteção dos investidores) emitiu um comunicado a 27/Março/2018, identificando um conjunto de regras mais restritivas, aplicadas aos investidores de retalho.
No mesmo documento, referem que 74 a 89% dos investidores de retalho tipicamente perdem dinheiro nestes investimentos, com valores médios por cliente entre 1.600€ e 29.000€ (2018). Já em 2011 a ESMA tinha lançado um ”investor warning”.
As novas regras entraram em vigor a 01/Agosto/2018 tendo em vista o aumento da regulação, a limitação da alavancagem e da margem negativa. Atenção, isto não substitui nem minimiza a necessidade de conhecimento deste mercado, das condições económicas e orçamentais, capacidade de gestão do risco, bem como dos riscos associados e da potencial perda de capital, entre outros.
Forex vs. outros investimentos
Fazendo uma comparação do Forex com outros investimentos, nomeadamente ações, obrigações e criptomoedas, nenhum deles é isento de risco, mas em termos relativos entre si, as obrigações são as que apresentam menor risco, de seguida as ações, e por fim o Forex e os criptoativos (extremamente voláteis e especulativos).
Apresentamos a tabela abaixo indicada que compara algumas das características, nomeadamente o perfil de risco, a volatilidade e os riscos principais, bem como alguns prós e contras.
Conclusão
O mercado Forex, ou mercado cambial, é onde as moedas são negociadas. É o maior mercado financeiro do mundo, com um volume de negociação diário superior a 7,5 triliões de dólares, impulsionado por transações comerciais, investimento e especulação.
Os principais intervenientes são grandes instituições financeiras, embora o acesso para investidores individuais tenha crescido.
O Forex é considerado um investimento de alto risco, adequado a investidores com um perfil profissional ou agressivo. A elevada volatilidade e o uso de alavancagem podem levar a perdas significativas.
As estatísticas de reguladores financeiros como a ESMA mostram que cerca de 74% a 89% dos investidores de retalho perdem dinheiro ao negociar Forex e CFDs, o que sublinha os riscos inerentes a este mercado.
Se mesmo assim te queres aventurar no mundo do Forex, é fundamental seguires um conjunto de princípios básicos para minimizar os riscos. Aqui estão algumas sugestões:
1. Educa-te
Antes de começar a negociar, dedica tempo para aprender os conceitos básicos, como pares de moedas, análise técnica e análise fundamental, gestão de risco. Existem recursos online, como vídeos, cursos e webinars, que podem ajudar a construir uma base de conhecimento (certifica-te que o curso é legítimo).
2. Começa com uma Conta Demo
Praticar é essencial. Antes de arriscares o teu dinheiro, abre uma conta demo, que a maioria dos brokers (corretoras) oferece, permitindo negociar com capital virtual em condições reais de mercado. É a melhor forma de testares as tuas estratégias, conhecimento, familiarizares-te com a plataforma de negociação e ganhar confiança sem o risco de perdas financeiras.
3. Gestão de risco é fundamental
Nunca invistas mais do que podes perder. Esta é a regra de ouro. Usa ferramentas como o stop loss para limitar as perdas e não arrisques uma grande percentagem do teu capital numa única transação. Uma prática é arriscar apenas 1% ou 2% do teu capital por negociação.
4. Escolhe um Broker Regulado
Escolhe um broker que seja regulado pela CMVM em Portugal. A regulamentação ajuda a garantir que a corretora cumpre padrões rigorosos de segurança e transparência.
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Disclaimer: Este conteúdo não constitui recomendação de investimento; serve apenas para fins informativos e pedagógicos. Forex, CFDs e outros derivados são instrumentos complexos que usam alavancagem e, por isso, implicam um risco elevado de perda rápida de capital. Antes de negociar, confirma se compreendes totalmente o funcionamento destes produtos e se podes suportar o risco de perder todo o valor investido.